Wednesday, November 14, 2007

Magdaleine.


21 de Setembro, agora já só falta um ano. Passei 5 longos anos num liceu, sem eventos, semelhante ao meu mundo, numa palavra, secante. Tive 4 namoradas, 1 durante 1 dia, encontrei-a num banco na praça dedicada ao maior escritor português. Eu vinha do Bairro alto com a minha “possie” de otários. Com litrosas numa mão e cigarros sorridentes na outra. Janados, atrofiados, má gente. Nem vale a pena explicar, a história agora não se foca nisso. Lembro-me de um deles estar a rir que nem um surdo, tanto que caiu. Claro que se começou tudo a rir e a fazer aquela coisa patética de se refastelaram no chão uns em cima dos outros a extasiar de riso. Eu, pessoalmente não me entusiasmo com isso. Fiz um sorriso inevitável de quem acha graça mas não ri, desviei o olhar e lá estava ela, Infinitamente mais bonita do que estava a fazer, o que seria se não fosse. Cheguei-me perto, com cuidado para não apanhar com nada e perguntei - “Tá tudo?”

Ela sorriu com os olhos, visto que agora estava com a boca cheia de grego. Mas no entanto, digo e volto a dizer que a simbiose entre os bocados de comida regurgitados e o seu ar de morte casual e oprimida. Passam despercebidos. Não há muitas que consigam.

“Espera aí.” Fui a um restaurante numa esquina ali perto buscar uns guardanapos e quando voltei não estava lá. Dei a volta a estátua e lá estava a rapariga de olhos verdes que esconde um preto. Dei-lhe e ela gesticulou um agradecimento.

“Estás bem?” Ao mesmo que seria frio tratá-la por você, sentia-me estranho trata-la por tu, algo não batia bem. Depois olhei com mais atenção e percebi. Respeitava-a e estava intimidado pela sua presença. Ela tinha um metro e 78, por volta de, aparentemente alargado por ter as pernas estendidas no degrau. Estava vestida de cocktail de noite, preto que deixava adivinhar levemente um decote. Era comprido mas não ao ponto de esconder uns sapatos de salto alto verdes escuros da cor dos seus olhos. O vestido não tinha mangas mas ela usava luvas pretas compridas e um xaile a condizer com os seus sapatos. Tinha também um elemento transformador, um colar de pérolas comprido mas enrolado em duas voltas, uma que descia mais que a outra. O seu cabelo estava numa forma que em tempos tinha sido destinada a ser uma bola atrás da nuca. O cabelo apanhado sem complicações, prático. “Estás sozinha?”

“Aparentemente.”

“Queres que te leve a casa? Pode ser que seja um psicopata de sangue frio mas vais ter de confiar na minha palavra ao dizer que sou um tipo honesto que não faria mal a uma vespa.”

“Vespa?”

“Sim, odeio vespas.” Sorri acompanhado de um charme treinado muitas vezes em casa. Consegui. “Magdaleine” E estendeu-me a mão.

“Luís, no strings attached” Tirei a camisola e dei-lhe, peguei-lhe na mão para a levar a minha vespa. Ela não conseguiu. Peguei nela e senti-me revitalizado, como se tivesse bebido um compal e feliz da maneira tranquila mas verdadeira quando ela enrolou o braço nos meus ombros. Olhei para ela antes de começar a andar.

“Segura?” E com a resposta dela pensei como é possível alterar-se uma pessoa com uma expressão facial.

“Onde é que moras?” Perguntei depois de pôr o capacete e demorar dois minutos a aquecer a mota, o chaço.

“Ali.” Disse-me ela enquanto apontava para o prédio do outro lado da rua.

“Leva-me contigo.” Disse com um ar desesperado e na maneira de quem age por impulso. Pensei, repensei, continuei a pensar.
”Mas…” Continuei a pausa. A minha cabeça envolvia-se num turbilhão de ideias, teorias, pensamentos, momentos repetidos, contínuas banalidades!

“Está bem” Desci com ela até ao Cais de Sodré e dirigi-me ao Clube Naval de Belém. Estava lá. O carro do meu tio. Sabia guiar desde os 12 anos devido a ter uma casa no campo, estas pequenas coisas. Peguei nas chaves do carro no pneu de trás, abr e liguei o carro. “Tens a certeza?” Ela não disse, apenas consentia. “Queres ser a minha namorada?” e ela como se fosse uma pergunta do dia - a – dia retorquiu
”Está bem!” Recuei do espaço e entrei para a marginal. Guiei sem rumo e preocupação. Magdaleine pôs com conforto a sua mão na minha que estava nas mudanças. Passado uma hora de conversa cansada mas entretida sem sentido ela adormeceu. Havíamos chegado à saída para Grândola. Virei e estacionei o carro num parque de uma igreja para passar a noite. Eram 4 da manhã. Saí do carro e dei a volta pela frente. Tirei-a do banco da frente e deitei-me com ela na mala do carro depois de tirar os bancos de trás. Ela era o ser mais bonito com quem eu alguma vez tinha passado a noite na minha vida. Adormeci a pensar no que seria, do que estava para vir. “Luís? Luís acorda” Que sonho a minha querida ainda estava comigo. Abri os olhos. Era a minha mãe e descobri mais tarde o pai da Magdaleine. Despedi-me dela e entrei no carro da minha mãe preparado, ou não, para ouvir um sermão de meia noite. Este é o primeiro conto da minha vida de liceu.

1 comment:

Sofia said...
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